Inverno
É tudo o que sinto
Viver
É sucinto
Paulo Leminski
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O inverno chegou. Trouxe consigo um poema do maravilhoso escritor curitibano Paulo Leminski. Trago esse poema comigo desde 1995, quando tinha oito anos e morava em Fortaleza (CE). Incríveis tempos...
terça-feira, 29 de junho de 2010
Azur e Asmar: uma aventura preta e branca em cores

Era uma vez a história de dois meninos que se amavam como irmãos.... O início dos contos de fadas é a melhor forma de apresentar a animação As Aventuras de Azur e Asmar (Azur et Asmar, 2006). Esse é o mais recente conto, em formato de filme, do fabulista, diretor e desenhista francês Michel Ocelot. Num trabalho de tamanha entrega, Ocelot também assume o roteiro dessa produção, uma verdadeira história das mil e uma noites.
Azur e Asmar, protagonistas da aventura, são criados por Jenane, ama-de-leite do primeiro e mãe do segundo menino. A educação dos garotos é embalada por histórias fantásticas sobre o reino encantado de Maghred, onde está aprisionada a Fada dos Dinjs. Esses contos marcam para sempre a vida de todos, uma vez que os meninos cresceram juntos como irmãos, mas são separados brutalmente pelo destino. Adultos, reencontram-se e tornam-se rivais na tentativa de libertar a Fada e conquistar o amor dela.
O filme consegue capturar espectadores de todas as idades, graças aos cenários deslumbrantes, de um colorido harmonioso e rico. Duas culturas, dois mundos, duas raças, duas religiões e a possibilidade de um pensar crítico sobre intolerância, racismo e demais prejuízos a partir da relação, ou da falta de relação, entre as pessoas são representados de maneira cativante e simples na narrativa. O filme apresenta leves ensinamentos de grande humanidade.

O cuidado com a direção de arte e os cenários pode ser contemplado nas criações de David Lacouault e Anne Lise Lourdelet respectivamente. No acabamento das imagens sonhadas por Ocelot, a dupla procura fazer alusões à arte medieval, às primeiras pinturas flamencas e à arquitetura turca, mescladas a paisagens orientais e do norte africano; busca-se, ainda, a presença da influência árabe no mundo com a construção de mesquitas surreais e mosaicos enigmáticos; a utilização de objetos gregos e persas e a criação de seres fantásticos completam o emaranhado de experiências visuais proporcionado pelo filme. Todos gostariam de ser um dos heróis e estar nos lugares onde se passam as aventuras.
Com a utilização de múltiplos elementos cênicos, cria-se um contexto “ahistórico” e multicultural no qual se desenrolam os fatos da trama. Graças aos efeitos da computação gráfica aliados ao fino traço das animações tradicionais aprimorados por Michel Ocelot, que utilizou essa técnica em Kirikou e a Princesa (1998); Príncipes e Princesas (1999); e Kirokou 2 – Os Animais Selvagens (2005), a obra As Aventuras de Azur e Asmar é a prova da busca pelo refinamento artístico na produção de animações.
Toda a preocupação estética, narrativa e sonora rendeu ao filme o reconhecimento internacional. Azur e Asmar recebeu o prêmio de melhor animação, júri popular infantil, do Festival de Cinema de Munique, Alemanha, em 2007. No mesmo ano, a trilha sonora, composta pelo veterano Gabriel Yared, concorreu à premiação cinematográfica francesa, o César.
Gabriel Yared fez trilhas para muitos filmes e conquistou o Oscar, o BAFTA, o Globo de Ouro (1997) e o Grammy (1998) de trilha sonora pelo drama O Paciente Inglês. O compositor tem importante papel na construção dessa aventura sensorial que é a história de Azur e Asmar, um poema para olhos, ouvidos e alma. A mescla entre as músicas árabe e clássica embala o ritmo de edição da obra e o pensamento dos espectadores.

Em 2008, As Aventuras de Azur e Asmar foi indicado ao Prêmio Goya, do cinema espanhol, na categoria de melhor animação. No Brasil, estreou em 19 de janeiro de 2007 e foi um dos 38 filmes estrangeiros, e única animação, selecionado para concorrer à premiação do 34º Festival Sesc dos Melhores Filmes 2008. A película conquistou elogios de pesquisadores, professores, jornalistas especializados, críticos e público e foi uma das representantes do cinema francês nas comemorações do Ano da França no Brasil.
O difícil acesso a essa obra coletiva, produzida por profissionais de França, Bélgica, Espanha, Itália e Israel, torna-se um pecado. Assistir ao filme original, através da rede mundial de computadores, em idiomas árabe e francês com legendas em italiano, é um trabalho digno das aventuras de Azur e Asmar. Para quem desejar ter o vídeo em casa, o DVD é distribuído pela Downtown Filmes e está à venda nas livrarias Cultura e Saraiva e nas Lojas Americanas por R$ 32,90 mais taxa de entrega. Todavia, é preciso reservar o produto pela “internet” com bastante antecedência.
Ao final da contemplação do filme, tem-se a certeza de que os 99 minutos de As Aventuras de Azur e Asmar compensam qualquer desafio superado pelos espectadores. O belo trabalho para representar relações duais (pretas e brancas, ricas e pobres...) é brindado com o colorido da convivência prazerosa entre a humanidade. Que os contos de fada abrilhantem ainda mais a realidade.

Francisco Danilo Shimada
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Imagens do filme retiradas da internet.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
As árvores de minha vida

Quando minha avó foi avisada de que esperava o primeiro neto, ela plantou no quintal de sua casa uma semente de jambo. Eis o meu primeiro presente. Após nascer, nos últimos instantes de agosto de 1986, fui presenteado com outra árvore. Dessa vez, uma mangueira plantada pelo meu avô. Árvore representa vida, renovação e esperança. Minha família precisava de tudo isso naquele momento. Creio que, às vezes, ainda deseje tudo até hoje.
As frutas mais doces da vida colhi no pomar da casa de minha vó... Como era gostoso ficar à sombra das árvores, esperando a hora do almoço, a hora de tomar banho, a hora de ir para a escola... Para brincar, não tinha espera. Subia no jambeiro e ficava a comer suas flores. Jambo só dá no verão. Em outros momentos, fingia estar escondido ou me balançava nos galhos até enjoar.
Já o primeiro beijo, aquele com a prima, foi sob os olhares atrevidos de passarinhos a bicar as mangas. Uma planta linda: tem flor sem ter espinhos, parafraseando poetas da Verde-e-Rosa. Belos momentos e outros de extremo perigo vivi... Pareço sentir até hoje as dores de minha queda do pé de jambo. Faltaram-me as asas das abelhas, que tanto me ferroaram em minha busca pela manga mais dourada de sol. Quedas e ferroadas fazem parte da vida. Tive deliciosas recompensas.
Mas felicidade parece incomodar. Por implicância de vizinhos, a mangueira veio ao chão. Pouco tempo depois, por vontade da companhia de energia elétrica, tive de dar adeus ao jamboeiro. Um rio de lágrimas se fez nesses instantes. Não perdi simples árvores, perdi companheiras, amigas, irmãs... Elas nasceram por mim e comigo.
Tantas outras árvores têm desaparecido para dar lugar a amplas avenidas, viadutos em giradores, paradas de ônibus e estacionamentos. Nunca mais tive a sombra de meus presentes. Pelo visto, outras pessoas também não. Eu só espero ter um belo e enorme quintal para poder plantar as árvores de meus futuros filhos. Meus primeiros presentes a eles. Ou seriam presentes para mim?

Francisco Danilo Shimada
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1ª Foto Flor Jambu (Karina Miotto)
2ª Foto Flor Manga (Blog caliandradoserradogo.blogspot.com)
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