
Era uma vez a história de dois meninos que se amavam como irmãos.... O início dos contos de fadas é a melhor forma de apresentar a animação As Aventuras de Azur e Asmar (Azur et Asmar, 2006). Esse é o mais recente conto, em formato de filme, do fabulista, diretor e desenhista francês Michel Ocelot. Num trabalho de tamanha entrega, Ocelot também assume o roteiro dessa produção, uma verdadeira história das mil e uma noites.
Azur e Asmar, protagonistas da aventura, são criados por Jenane, ama-de-leite do primeiro e mãe do segundo menino. A educação dos garotos é embalada por histórias fantásticas sobre o reino encantado de Maghred, onde está aprisionada a Fada dos Dinjs. Esses contos marcam para sempre a vida de todos, uma vez que os meninos cresceram juntos como irmãos, mas são separados brutalmente pelo destino. Adultos, reencontram-se e tornam-se rivais na tentativa de libertar a Fada e conquistar o amor dela.
O filme consegue capturar espectadores de todas as idades, graças aos cenários deslumbrantes, de um colorido harmonioso e rico. Duas culturas, dois mundos, duas raças, duas religiões e a possibilidade de um pensar crítico sobre intolerância, racismo e demais prejuízos a partir da relação, ou da falta de relação, entre as pessoas são representados de maneira cativante e simples na narrativa. O filme apresenta leves ensinamentos de grande humanidade.

O cuidado com a direção de arte e os cenários pode ser contemplado nas criações de David Lacouault e Anne Lise Lourdelet respectivamente. No acabamento das imagens sonhadas por Ocelot, a dupla procura fazer alusões à arte medieval, às primeiras pinturas flamencas e à arquitetura turca, mescladas a paisagens orientais e do norte africano; busca-se, ainda, a presença da influência árabe no mundo com a construção de mesquitas surreais e mosaicos enigmáticos; a utilização de objetos gregos e persas e a criação de seres fantásticos completam o emaranhado de experiências visuais proporcionado pelo filme. Todos gostariam de ser um dos heróis e estar nos lugares onde se passam as aventuras.
Com a utilização de múltiplos elementos cênicos, cria-se um contexto “ahistórico” e multicultural no qual se desenrolam os fatos da trama. Graças aos efeitos da computação gráfica aliados ao fino traço das animações tradicionais aprimorados por Michel Ocelot, que utilizou essa técnica em Kirikou e a Princesa (1998); Príncipes e Princesas (1999); e Kirokou 2 – Os Animais Selvagens (2005), a obra As Aventuras de Azur e Asmar é a prova da busca pelo refinamento artístico na produção de animações.
Toda a preocupação estética, narrativa e sonora rendeu ao filme o reconhecimento internacional. Azur e Asmar recebeu o prêmio de melhor animação, júri popular infantil, do Festival de Cinema de Munique, Alemanha, em 2007. No mesmo ano, a trilha sonora, composta pelo veterano Gabriel Yared, concorreu à premiação cinematográfica francesa, o César.
Gabriel Yared fez trilhas para muitos filmes e conquistou o Oscar, o BAFTA, o Globo de Ouro (1997) e o Grammy (1998) de trilha sonora pelo drama O Paciente Inglês. O compositor tem importante papel na construção dessa aventura sensorial que é a história de Azur e Asmar, um poema para olhos, ouvidos e alma. A mescla entre as músicas árabe e clássica embala o ritmo de edição da obra e o pensamento dos espectadores.

Em 2008, As Aventuras de Azur e Asmar foi indicado ao Prêmio Goya, do cinema espanhol, na categoria de melhor animação. No Brasil, estreou em 19 de janeiro de 2007 e foi um dos 38 filmes estrangeiros, e única animação, selecionado para concorrer à premiação do 34º Festival Sesc dos Melhores Filmes 2008. A película conquistou elogios de pesquisadores, professores, jornalistas especializados, críticos e público e foi uma das representantes do cinema francês nas comemorações do Ano da França no Brasil.
O difícil acesso a essa obra coletiva, produzida por profissionais de França, Bélgica, Espanha, Itália e Israel, torna-se um pecado. Assistir ao filme original, através da rede mundial de computadores, em idiomas árabe e francês com legendas em italiano, é um trabalho digno das aventuras de Azur e Asmar. Para quem desejar ter o vídeo em casa, o DVD é distribuído pela Downtown Filmes e está à venda nas livrarias Cultura e Saraiva e nas Lojas Americanas por R$ 32,90 mais taxa de entrega. Todavia, é preciso reservar o produto pela “internet” com bastante antecedência.
Ao final da contemplação do filme, tem-se a certeza de que os 99 minutos de As Aventuras de Azur e Asmar compensam qualquer desafio superado pelos espectadores. O belo trabalho para representar relações duais (pretas e brancas, ricas e pobres...) é brindado com o colorido da convivência prazerosa entre a humanidade. Que os contos de fada abrilhantem ainda mais a realidade.

Francisco Danilo Shimada
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Imagens do filme retiradas da internet.
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