Não vejo nenhum jornal publicar a foto dos empresários donos dos supermercados fechados, em Pernambuco, por conta de crimes contra o consumidor. É mais fácil encontrar um rato dentro da cesta básica do que um produto na validade em alguns estabelecimentos.
Não vejo nenhum jornal publicar a foto de filhos de empresários pernambucanos envolvidos em acidentes de carro com vítimas fatais. Beberam, dirigiram, assassinaram pais e mães de família e continuam soltos.
Nos últimos dias, vejo postagens sobre o "boy do arrastão". Universitários, jornalistas, donas de casa, policiais... vários conhecidos postando brincadeirinhas sobre o ajudante de pedreiro José Adaílton dos Santos, 18 anos, sem antecedentes criminais. Tento imaginar a graça de uma situação tão séria. Não consigo!
José Adaílton já se entregou às "autoridades". Agora é aguardar, ver se será indiciado, julgado, condenado... Entenderam a ordem? Antes de condenar, vem todo um processo. A imagem dele corre o Mundo. É, para muitos, um criminoso, ladrão safado... A mídia tem de mostrar! Será que é isso mesmo? Creio que a vida de José Adaílton jamais será a mesma.
Fico imaginando quem paga propina ao guarda de trânsito; quem humilha uma pessoa por condição social, econômica, religiosa,sexual-afetiva; quem suborna para conseguir uma vantagem; quem fura fila no terminal de ônibus, no banco, na entrada do elevador; quem dá carteirada por ser "autoridade"; quem estaciona em local proibido; quem bebe e sai para dirigir... Nossa! Isso também não é errado, não merece virar um meme e ser divulgado na internet para condenação pública?
Fico imaginando o quanto as pessoas podem ser tão mesquinhas ao ponto de sentir prazer com a desgraça alheia. De criticar e jogar pedra, quando se tem telhado de vidro. Isso é de uma falta de humanidade assustadora. Mas acredito que todas as pessoas podem e devem melhorar. Inclusive eu que escrevo este texto.
Justiça com as próprias mãos é injustiça. Justiça tem de ser para todos, independente do saldo na conta corrente, do grau de instrução ou de qualquer outra coisa.
Paulista (PE), 20 de maio de 2014, às 22h56.
Francisco Danilo Soares dos Santos Shimada