terça-feira, 5 de agosto de 2014

Hiroshima e Nagazaki - 69 anos: um breve desabafo, uma carta de agradecimento à vida

Jamais aceitarei que, para alcançarmos a paz, precisaremos da guerra, da destruição e da morte... Isso é doentio.

O texto a seguir não tem função jornalística, literária, histórica, filosófica... Apenas tive vontade de escrevê-lo, em 6 de agosto de 2012. Este é o terceiro ano que o compartilho na véspera da data, 6 de agosto, que marca a destruição de Hiroshima e, posteriormente, Nagasaki durante a II Guera Mundial.

Republico o texto abaixo com as devidas alterações.

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Terra do Sol Nascente

Numa segunda-feira, em 6 de agosto de 1945, há exatos 69 anos, a cidade japonesa de Hiroshima foi atingida pela bomba atômica “Little Boy”, lançada pela Força Aérea dos Estados Unidos da América (do Norte). Três dias depois, foi a vez de Nagasaki, outra importante cidade do Japão, ser destruída pela bomba nuclear “Fat Man”.

Estima-se que 220 mil pessoas morreram durante esses dois ataques, que marcaram o “fim” da II Grande Guerra Mundial. Milhares de pessoas continuaram morrendo, nos anos seguintes, em decorrência da radioatividade.

Antes que possam questionar, o que escrevo não objetiva minimizar as atrocidades cometidas por japoneses, alemães, italianos, britânicos, russos, norte-americanos e tantos outros povos durante a Segunda Guerra, ou em outros conflitos. Brasileiros, argentinos e uruguaios, por exemplo, também liquidaram os irmãos paraguaios em assombroso conflito durante a Guerra do Paraguai. Pernambuco, estado onde nasci e vivo, também foi bastante mutilado por ter uma população outrora bastante aguerrida.

Tenho minhas razões para lamentar o massacre no Japão. Meus avós paternos conseguiram escapar de Hiroshima antes do bombardeio. "Abandonar" o lar e os amigos; saber que tudo será destruído; deixar toda uma vida para trás dói bastante. É de uma violência assustadora. Daí vem o meu "lamento". Eles conseguiram, e sou grato por isso. Mas milhares de pessoas não tiveram a mesma oportunidade.

Se hoje estou aqui, foi graças à sorte de eles, meus avós, terem deixado o Japão a tempo... Chegado ao Brasil... Tido meu pai em São Paulo... E meu pai, nissei nipo-brasileiro paulista, ter encontrado minha mãe miscigenada e paraibana já em 1985. Dessa união, nasci sansei.

Confio, torço, rezo, espero que tais fatos jamais tornem a acontecer. Confio, torço, rezo e espero (ainda mais) para que todos os nossos atuais conflitos possam acabar um dia.

A exemplo do que escrevi no início, jamais aceitarei a paz pela guerra, pela destruição desumana, pelo sadismo... ACREDITO NA VIDA. ACREDITO NO AMOR E NA SORTE. SOU FRUTO DELES!

Poema de Vinícius de Moraes, musicado por Gerson Conrad, na canção "Rosa de Hiroshima" da banda Secos e Molhados.

Quem passou por grandes perdas sabe do que estou falando. Embora eu também saiba: é muito difícil mensurar o tamanho da dor de cada um. Não vivi, diretamente, nenhum grande conflito bélico. Mas não posso ficar alheio aos que acontecem pelo Mundo. Difícil viver com meu olhar de caridade inútil que, por vezes, me sufoca, diante de tantas tragédias. Tento agir através das palavras.

Dani(ro)lo Shimada

P.S.: Não tenho o crédito da foto. Se alguém souber o autor, por favor, avisem-me.

Paulista (PE), 6 de agosto de 2012.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Perdidos, eles se encontram #RelatosDaCopa

Recife, a exemplo de outras cidades, vive clima de Copa; e, nunca antes na história dessa cidade acostumada a bater recordes em linha reta, recebemos tantos turistas. E não! Não considero portugueses, espanhóis e holandeses de séculos passados nessa conta. Falo, exclusivamente, de turistas.

Hoje, mais cedo, tive de gastar todo o meu japonês, para orientar um desorientado grupo de "ancestrais" perdidos na Estação Joana Bezerra. Depois da conversa no idioma nipônico, partimos pro inglês. Tudo se resolveu. O destino deles era a Rodoviária TIP e, em seguida, Natal (RN). Seis japoneses animados e bastante dispostos a aproveitar cada instante no Brasil. Depois de um tempo, nem pareciam tão perdidos assim.

No mesmo bolo, já no TIP, um quarteto mexicano andava de um lado para o outro com um desejo “simples”: seguir viagem para Fortaleza. Depois da conversa, passadas as orientações, eles compraram as passagens e, mais tarde, seguirão para a capital cearense. O objetivo é acompanhar o duelo entre Brasil e México nesta terça (17). Em tom de brincadeira, que a seleção deles fique perdida em campo!

O melhor de tudo isso foi poder sentir a energia desse pessoal. O quanto eles estão felizes e agradecidos por estarem acompanhando uma Copa do Mundo no país do futebol, longe de qualquer conotação pejorativa. Tenho meus motivos, minhas decepções com a Copa, muito pelo que vi e vivi durante a Copa das Confederações em 2013. Mas, agora, nada disso me impossibilita de viver esse clima de festa. Jamais deixei que “uma velha mágoa se transformasse em chaga antiga”. Não seria agora!

Dos encontros internacionais, chego a pensar que o perdido sou eu em meu próprio país. Os japoneses e mexicanos - e tantos outros de várias partes do Mundo - vieram ao Brasil para "se perder", e da melhor maneira possível. Dessa forma, eles estão, na verdade, se encontrando por aqui. Alguém disse, não me lembro quem, "muitas vezes, para se encontrar, é preciso se perder". Eles estão felizes, sorridentes e dispostos a viver tudo isso como se fosse a última vez.

Todos nós estamos perdidos, sim. Mas já estamos nos encontrando! Sorriso no rosto e boa vontade!

Francisco Danilo Shimada

sábado, 7 de junho de 2014

Eu perdi o meu medo da chuva

No metrô, mais cedo, um argentino começou a tocar e cantar músicas brasileiras. Raul Seixas, Alceu Valença e Luiz Gonzaga no repertório. O esforço dele, tentando cantar em português, chamou a atenção de todos no vagão.

Ao cantar "Medo da chuva", de Raul Seixas, o argentino me brindou com a grata surpresa da lembrança. Ao meu lado, uma senhora, com sorriso singelo, derramava algumas lágrimas. Em meu canto, eu derramava as minhas.

Uma estação depois, a senhora desceu. Levou consigo os porquês daquelas lágrimas, daquele sorriso. Pouco depois, o argentino, com algumas moedas no chapéu, também partiu. Por último, desci carregando os motivos de minhas lágrimas, dores, alegrias, tristezas, felicidades...

É preciso perder o medo da chuva, para aprender o segredo da vida. O argentino, a senhora e Raul fizeram-me lembrar disso; algo que, há muito, eu havia me esquecido. Analisando tudo o que tem acontecido, eu já posso cantar: "Eu perdi o meu medo, o meu medo, o meu medo da chuva".


Postado por mim, originalmente, no Facebook, em 27 de maio de 2014.

Francisco Danilo Shimada

terça-feira, 20 de maio de 2014

O boy do arrastão - A "coragem" de jogar uma pedra, quando se tem telhado de vidro.

Não vejo nenhum jornal publicar a foto dos empresários donos dos supermercados fechados, em Pernambuco, por conta de crimes contra o consumidor. É mais fácil encontrar um rato dentro da cesta básica do que um produto na validade em alguns estabelecimentos.

Não vejo nenhum jornal publicar a foto de filhos de empresários pernambucanos envolvidos em acidentes de carro com vítimas fatais. Beberam, dirigiram, assassinaram pais e mães de família e continuam soltos.

Nos últimos dias, vejo postagens sobre o "boy do arrastão". Universitários, jornalistas, donas de casa, policiais... vários conhecidos postando brincadeirinhas sobre o ajudante de pedreiro José Adaílton dos Santos, 18 anos, sem antecedentes criminais. Tento imaginar a graça de uma situação tão séria. Não consigo!

José Adaílton já se entregou às "autoridades". Agora é aguardar, ver se será indiciado, julgado, condenado... Entenderam a ordem? Antes de condenar, vem todo um processo. A imagem dele corre o Mundo. É, para muitos, um criminoso, ladrão safado... A mídia tem de mostrar! Será que é isso mesmo? Creio que a vida de José Adaílton jamais será a mesma.

Fico imaginando quem paga propina ao guarda de trânsito; quem humilha uma pessoa por condição social, econômica, religiosa,sexual-afetiva; quem suborna para conseguir uma vantagem; quem fura fila no terminal de ônibus, no banco, na entrada do elevador; quem dá carteirada por ser "autoridade"; quem estaciona em local proibido; quem bebe e sai para dirigir... Nossa! Isso também não é errado, não merece virar um meme e ser divulgado na internet para condenação pública?

Fico imaginando o quanto as pessoas podem ser tão mesquinhas ao ponto de sentir prazer com a desgraça alheia. De criticar e jogar pedra, quando se tem telhado de vidro. Isso é de uma falta de humanidade assustadora. Mas acredito que todas as pessoas podem e devem melhorar. Inclusive eu que escrevo este texto.

Justiça com as próprias mãos é injustiça. Justiça tem de ser para todos, independente do saldo na conta corrente, do grau de instrução ou de qualquer outra coisa.

Paulista (PE), 20 de maio de 2014, às 22h56.

Francisco Danilo Soares dos Santos Shimada

sábado, 26 de abril de 2014

Baby Consuelo do Brasil, in name of the Jesus, glória a Deus nas alturas, dentro e fora da matrix, que seja telúrica.

“Tudo azul. Adão e Eva e o paraíso. Tudo azul. Sem pecado e sem juízo.” 

Tinha uns oito anos, um garoto cheio de dúvidas, longe das raízes pernambucanas, vivendo um último e (in)tenso ano no Ceará. Era 1996. Das lembranças daquela época, sei que, com certeza, o programa de domingo ficava entre ir à Praia do Futuro, durante o dia, ou ao Shopping Iguatemi, à noite.

Quando a escolha era o shopping, depois do passeio e do lanche na McDonald’s, voltávamos em silêncio no carro. Nossa família – de pai, mãe e dois filhos – pouco conversava coletivamente. O único som vinha do rádio, sintonizado na mesma emissora nos três anos em que moramos em Fortaleza. Não me lembro do nome da rádio, mas equivale a Nova Brasil ou Tribuna, aqui em Pernambuco.

A programação era sempre a mesma. Num determinado momento, tocava Sem pecado, sem juízo, que, para mim, sempre será Tudo azul. Que voz era aquela? Eu me deitava no banco de trás – não havia a preocupação com o uso do cinto de segurança – enquanto meu irmão ficava quieto no canto dele. Eu surtava internamente com aquela história de “Adão e Eva sem pecado e sem juízo”. Era possível não ter pecado e não ter juízo? Quem profetizava aquilo? Era Baby; ora Consuelo, ora do Brasil. Que também fosse minha!

O movimento do carro ao som de Baby Consuelo do Brasil, entre a Antônio Sales e a João Cordeiro, já perto do prédio onde morávamos, era ainda mais inebriante. Ouvir Baby me fez e me faz sentir assim! Nesse transe, o fim da música indicava o começo da semana.


Não sei quando descobri o nome da mulher que cantava a história bíblica do primeiro casal. Não foi na homenagem do Dia do Índio, como já contei aqui. Não me lembro de quando foi. É tudo muito “matrix”, como diria a própria Baby. Uma coisa sem explicações ou memórias. Aconteceu num momento em que mente e corpo não estavam juntos. Só pode!

Depois de Tudo azul e Todo dia era Dia de Índio, veio Menino do Rio. Nossa! O que era aquela voz cantando “calor que provoca arrepio”? Vim entender o significado de tudo bem depois, física e mentalmente. Salve, salve, Caetano! Salve o boy magia que encantou a mente por trás dos caracóis dos cabelos baianos.

Das histórias com Menino do Rio – que sempre me levam à Copacabana boy, de Rita Lee – lembro-me de ter pedido para meu editor não colocar a expressão “meninos do Rio” em uma matéria sobre jogadores cariocas. Em 2013, com 27 anos, eu fui “careta”; isso nos rendeu uma boa conversa; ele aceitou meu pedido. Dias depois, vi uma manchete com “meninos do Rio” em um jornal. Quase morri (de rir). Acho que Christian nunca viu essa matéria. Assim espero!

Em 2012, quando Baby esteve no Recife, eu estava em Cuiabá. Como pensei em desistir da viagem para ver o show (e fazer outras coisas). Mãe de volta aos palcos, in name of the Jesus, e graças ao filho Pedro Baby. Mas foi graças a essa maravilhosa viagem que eu pude, no ano seguinte, discutir a respeito do título da matéria sobre os “meninos do Rio” com meu editor. Tudo tem um propósito.

Vez ou outra, eu me pego cantarolando canções únicas, declarações aos prazeres e às dores da vida. Músicas que parecem ter sido compostas exclusivamente para Baby louvar: A menina dança, Telúrica, Seus olhos, Planeta Vênus, Um auê com você, Barrados na Disneylândia...

Agora aguardo a volta de Baby do Brasil a Pernambuco. A voz que embalou sonhos dos mais alucinantes aos mais “proibidos”. A voz com mais de 60 anos e um timbre doce, cheio de amor e firmeza. A voz mais incrível entre as cantoras brasileiras “atuais”, sem dúvida. Aquilo e aquela que o Tropicalismo e os Novos baianos nos deram, nada nos tira. Deus, em todas as suas formas, seja louvado. A “popstora” e apóstola Baby também diz amém, “sem pecado” e com o melhor juízo.


Francisco Danilo Shimada