sábado, 26 de abril de 2014

Baby Consuelo do Brasil, in name of the Jesus, glória a Deus nas alturas, dentro e fora da matrix, que seja telúrica.

“Tudo azul. Adão e Eva e o paraíso. Tudo azul. Sem pecado e sem juízo.” 

Tinha uns oito anos, um garoto cheio de dúvidas, longe das raízes pernambucanas, vivendo um último e (in)tenso ano no Ceará. Era 1996. Das lembranças daquela época, sei que, com certeza, o programa de domingo ficava entre ir à Praia do Futuro, durante o dia, ou ao Shopping Iguatemi, à noite.

Quando a escolha era o shopping, depois do passeio e do lanche na McDonald’s, voltávamos em silêncio no carro. Nossa família – de pai, mãe e dois filhos – pouco conversava coletivamente. O único som vinha do rádio, sintonizado na mesma emissora nos três anos em que moramos em Fortaleza. Não me lembro do nome da rádio, mas equivale a Nova Brasil ou Tribuna, aqui em Pernambuco.

A programação era sempre a mesma. Num determinado momento, tocava Sem pecado, sem juízo, que, para mim, sempre será Tudo azul. Que voz era aquela? Eu me deitava no banco de trás – não havia a preocupação com o uso do cinto de segurança – enquanto meu irmão ficava quieto no canto dele. Eu surtava internamente com aquela história de “Adão e Eva sem pecado e sem juízo”. Era possível não ter pecado e não ter juízo? Quem profetizava aquilo? Era Baby; ora Consuelo, ora do Brasil. Que também fosse minha!

O movimento do carro ao som de Baby Consuelo do Brasil, entre a Antônio Sales e a João Cordeiro, já perto do prédio onde morávamos, era ainda mais inebriante. Ouvir Baby me fez e me faz sentir assim! Nesse transe, o fim da música indicava o começo da semana.


Não sei quando descobri o nome da mulher que cantava a história bíblica do primeiro casal. Não foi na homenagem do Dia do Índio, como já contei aqui. Não me lembro de quando foi. É tudo muito “matrix”, como diria a própria Baby. Uma coisa sem explicações ou memórias. Aconteceu num momento em que mente e corpo não estavam juntos. Só pode!

Depois de Tudo azul e Todo dia era Dia de Índio, veio Menino do Rio. Nossa! O que era aquela voz cantando “calor que provoca arrepio”? Vim entender o significado de tudo bem depois, física e mentalmente. Salve, salve, Caetano! Salve o boy magia que encantou a mente por trás dos caracóis dos cabelos baianos.

Das histórias com Menino do Rio – que sempre me levam à Copacabana boy, de Rita Lee – lembro-me de ter pedido para meu editor não colocar a expressão “meninos do Rio” em uma matéria sobre jogadores cariocas. Em 2013, com 27 anos, eu fui “careta”; isso nos rendeu uma boa conversa; ele aceitou meu pedido. Dias depois, vi uma manchete com “meninos do Rio” em um jornal. Quase morri (de rir). Acho que Christian nunca viu essa matéria. Assim espero!

Em 2012, quando Baby esteve no Recife, eu estava em Cuiabá. Como pensei em desistir da viagem para ver o show (e fazer outras coisas). Mãe de volta aos palcos, in name of the Jesus, e graças ao filho Pedro Baby. Mas foi graças a essa maravilhosa viagem que eu pude, no ano seguinte, discutir a respeito do título da matéria sobre os “meninos do Rio” com meu editor. Tudo tem um propósito.

Vez ou outra, eu me pego cantarolando canções únicas, declarações aos prazeres e às dores da vida. Músicas que parecem ter sido compostas exclusivamente para Baby louvar: A menina dança, Telúrica, Seus olhos, Planeta Vênus, Um auê com você, Barrados na Disneylândia...

Agora aguardo a volta de Baby do Brasil a Pernambuco. A voz que embalou sonhos dos mais alucinantes aos mais “proibidos”. A voz com mais de 60 anos e um timbre doce, cheio de amor e firmeza. A voz mais incrível entre as cantoras brasileiras “atuais”, sem dúvida. Aquilo e aquela que o Tropicalismo e os Novos baianos nos deram, nada nos tira. Deus, em todas as suas formas, seja louvado. A “popstora” e apóstola Baby também diz amém, “sem pecado” e com o melhor juízo.


Francisco Danilo Shimada

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