quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Graças a Deus, não sou alérgico a medicamentos (ou O fim do Carnaval da baiana)

Dona Ilza é baiana de escola de samba, jamais perdeu um desfile na Dantas Barreto* durante a segunda-feira de Carnaval. Sempre usa saia rodada, bata e pano de cabeça tão alvos, iguais às brancas nuvens do céu do Recife, cuidados pessoalmente por ela. Foi lavadeira para famílias durante décadas, antes de conquistar a merecida aposentadoria dos rios, dos tanques e das pias. O estilo fica completo com brincos, anéis e pulseiras de ouro, além das contas e guias dos Orixás.

Só que essa baiana de riso fácil e contagiante perdeu um pouco de brilho nos últimos dias. Após pouco mais de uma semana de luta, na noite dessa quarta-feira (25/9), o samba de Dona Ilza tocou mais triste, ou nem bateu. Ela perdeu o companheiro e amor de tantos carnavais. Silenciaram Moacir, que significa “filho do sofrimento” na língua-geral tupi-guarani; morreu o marido de bambas, versos e prosas.

Dores no peito fizeram Moacir ser levado a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Tanto a família quantos os médicos que prestaram os primeiros socorros foram bem claros: o paciente é alérgico à dipirona. Registro feito, o que foi prescrito pelo plantonista e injetado em Seu Moacir? Dipirona! Resultado: o coração do sambista bateu descompassado, quase parou “no meio da avenida”, no meio do pronto-socorro. Na sequência, internação, entubamento e, por fim, a morte.

O enredo desse samba, no final do desfile, foi transformado em nota triste e melancólica. As alas passaram, mas parece não haver mais motivo para apuração. É a dor de perder o amigo, o marido, o pai, o avô, o companheiro, o sambista... Moacir foi desfilar no Céu; Dona Ilza, queira Deus, que continue a bailar pela Terra. Já cantou Clara Guerreira os versos de Nelson Cavaquinho, “o sol há de brilhar mais uma vez”...


*Avenida Dantas Barreto, localizada no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife (PE), é a “passarela” de diversas manifestações culturais durante o Carnaval. Por ela, desfilam escolas de samba, blocos, troças, ursos, maracatus, tribos e foliões.

Francisco Danilo Shimada, após saber da morte do marido de uma querida amiga e prestes a ir ao otorrino por conta de uma infecção na garganta que já dura dez dias.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Um vira-lata e eu

Ele chegou de mansinho no último 25 de julho, um dia bastante especial para mim*. Na verdade, ele me acordou com os latidos que vinham da rua pouco depois das 6h. Despertei atordoado; chamei mainha; fui para a rua sem camisa (um feito raríssimo); e o trouxe para dentro de casa (leia-se quintal).

O objetivo era encontrar o lar (ou um novo lar) do pequeno, mas não conseguimos. Ficar aqui em casa era algo quase impossível. Há anos, eu não tinha um bicho de estimação. Olhem que já cuidei de cachorro, gato, coelho e até guaiamum, mas todos já adultos. Um filhotinho seria novidade.

Creio que não o encontramos. Ele nos encontrou... E conquistou um pai alérgico, um irmão pouco animado com a ideia, uma mãe cheia de tarefas, os alunos do reforço, os vizinhos, nossa família... Em dois meses, já não nos imaginamos sem ele, sem o novo membro de nossa (louca) família, embora ele nos “perturbe” mais do que todos os nossos alunos juntos, em mais de dez anos de aulas particulares.

Perguntado sobre os hábitos alimentares, informei que ele adorava ração e água, além de vassoura, pedra, madeira, rodo, emborrachado, torrada, laranja, meia... Por pouco, numa súbita invasão, não deu fim ao controle remoto. Com uma foto no celular e essa breve explicação, recebi a notícia: é labrador. Logo disseram: "coloque o nome dele de Marley", em menção ao livro de Jhon Grogan, que virou filme. Sei que sou jornalista, mas... ele tem jeito de menino, de Nino. No final, nesse jeito menino, ele tem mais de vira-lata do que qualquer outra coisa. E isso é lindo!

Seja bem-vindo ao Reino Unido dos Soares dos Santos Shimada. Seja bem-vindo ao seu novo lar! Como muito prazer, apresento nosso mais novo soberano: Nino, o Grande!

*Em 25 de julho de 1987, falei "papai" pela primeira vez. Em 25 de julho de 2006, num momento muito difícil, mainha escreveu na capa de minha Bíblia: "Danilo, que Deus seja louvado na sua vida". Em 25 de julho de 2012, colei grau e "me tornei" jornalista oficialmente e com diploma. Em 25 de julho de 2013, Nino me encontrou.

Francisco Danilo Shimada

terça-feira, 24 de setembro de 2013

De quando deixei de ir aos estádios de futebol*

Foto feita durante o Clássico dos Clássicos Centenário, entre Sport e Náutico, em 25 de julho de 2009.

Era uma vez...

A cada semana, bandos vestidos com mantos amarelos se dirigiam a um templo de concreto e grama. No local, chamado de Ilha do Leão, entoavam gritos de guerra em falsa honra aos deuses do ludopédio. Após o culto, embriagados, num transe assustador, com olhos vermelhos e máscaras aterrorizantes, deixavam a igreja onde, há pouco, ritualizaram. Em seguida, espalhavam-se por todos os cantos da vila do Hellcife.

Aqueles que moravam mais longe, em outras vilas, invadiam coches coletivos e aterrorizavam com gritos, olhares e gestos os demais usuários do transporte. Cores diferentes da amarela eram banidas. E não só as cores, mas qualquer um que ousasse ser diferente. Todos eram hostilizados.

Dentro de um coche, num determinado momento, quatro desses rapazes amarelos ameaçaram um jovem vermelho. A tortura psicológica durou segundos, minutos, horas... uma eternidade! Os demais coloridos, acuados num canto, pouco ou nada podiam fazer.

Um dos amarelos furtou ouro, prata e tecidos do garoto vermelho. Por negar-se a descer do coche, esse encarnado foi covardemente espancado. Nada se podia fazer. Nada... A não ser desejar que os defensores do povo, a grande guarda, aparecessem. Mas não apareceram. As pessoas rezaram, então!

Clima de medo se fez dentro do coche. O vermelho do rapaz não se encontrava mais apenas em seu manto, mas em seu rosto, em seus braços, em sua alma dilacerada... Sem forças, foi jogado para fora do transporte como um saco de lixo. O coche teve de seguir, por ordem dos covardes amarelos. O clima de tensão e perplexidade seguiu junto.

Enquanto “dividiam” o furto, o roubo, o assalto, falavam de festas e novas ações. Tentaram lembrar-se de quantas oferendas foram empurradas às redes dos deuses do ludopédio durante o culto assistido. Mas não se lembraram. O êxtase pela violência "gratuita" era a única coisa que emanava daqueles seres e permanecia em suas mentes. O próximo passo seria atacar os amantes iguais, os mais experientes...

O que valia era a vontade de humilhar o outro de maneira estúpida e covarde. E publicar isso para a sociedade através da rede de comunicação social. O clima de euforia foi cortado, repentinamente, com pedras arremessadas contra o coche. Amigos? Inimigos? A quem interessava? Nada deteve os amarelos... que voltaram tranquilamente para suas vielas.

*Foi este ano, mas não me lembro do mês, do campeonato, do placar. Fui ao estádio do Sport Club do Recife, na Ilha do Retiro, para assistir a uma partida de futebol. O jogo terminou bem tarde, depois das 23h30. Voltei para casa de ônibus e presenciei a agressão sofrida por um torcedor de um time adversário. Quatro jovens de uma torcida organizada do Sport, dois deles acompanhados das namoradas, espancaram o rapaz e o assaltaram. Foi horrível! Até hoje tento esquecer tudo o que vi. Não consigo; creio que nunca conseguirei.

Francisco Danilo Shimada

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Dia de visita

Foi como um soco no estômago, num dia nublado. Senti-me impotente diante daquelas mulheres, inúmeras, dentro do ônibus, carregando bolsas e crianças. Voltavam do presídio e conversavam sobre os "seus" homens, aqueles que elas haviam deixado atrás das grades. Deixaram por essa ser a única alternativa, a rotina definida por um tempo judicialmente metafórico em resposta a um ato (in)justificável.

A visita do domingo foi rápida, sem direito a pernoite, e possivelmente, repleta das mesmas cobranças e promessas. A cobrança dos homens, "que não nos abandonem"; a promessa das mulheres, "jamais". Quantos filhos, netos, maridos e pais fizerem tal pedido? E quantas mães, avós, mulheres e filhas reafirmaram o compromisso?

Entre as conversas, a mais triste partiu de uma loira, grávida, evangélica... Linda e mal tratada pelo tempo, pela rotina. "Esse tempo de chuva é tão bom para dormir agarrado com alguém", disse. "Durma abraçada a Daniel", replicou uma morena falante. "Terei de fazer isso. Pena que não ficamos lá hoje. Está tão frio", completou a loira. Só imaginei tratar-se de um filho, do filho tido com o homem ausente há, sabe-se lá, quanto tempo. Sabe-se lá o porquê dessa ausência. Imagina-se.

Eram tantas com um mesmo rosto sofrido, alegre e satisfeito. Resignados e fortes, num mesmo instante. Rostos que se misturaram à multidão no terminal onde descemos poucos minutos depois. Minutos que duram até agora, horas passadas. De lá, cada uma tomou o rumo de casa. Creio nisso. Fui para o meu show num domingo nublado e chuvoso. Fui só.

Francisco Danilo Shimada

domingo, 28 de abril de 2013

Mangueira – 85 anos brotando em flor...

Carnaval 2013 - Foto: Marcos Michael

"A Mangueira não morreu, nem morrerá", como bem escreveram Aluísio Augusto da Costa e Enéas Brites na Exaltação. Este nome forte, Estação Primeira de Mangueira, está gravado na história.

Quando a Mangueira pisou na Sapucaí, em 1999, para desfilar O século do samba, um dos mais belos versos já compostos para um samba-enredo foi cantado pelo chão da Escola, pela comunidade, pela arquibancada, pelos camarotes: “a manga brota em flor sem ter espinho”. O título daquele Carnaval, para fazer parte da galeria de 17 conquistas eternas, não veio. A emoção permanece!

Com 85 anos de história, bem que a nossa vontade seria de cantar uma Mangueira que brota em flor sem ter espinhos. Essa seria a realização do maior sonho de Carnaval, a eterna alegria, embora tudo venha a se acabar numa quarta-feira. Mas a história vai além da festa. Problemas existem dentro e fora da Avenida, do Barracão ou do Morro. Que sejam resolvidos, que possamos resolvê-los.

Neste 28 de abril de 2013, num domingo em que completamos 85 anos, o desejo é de recuperação para a Velha Manga. Que o Samba sempre esteja presente em nosso Palácio, no templo onde ainda brilham as estrelas bambas: Cartola, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Dona Zica, Dona Neuma, Maçu, Carlos Cachaça, Delegado, Zé Espinguela, Jamelão, Saturnino, Xangô, Beth Carvalho, Alcione, Rosemary e tantos outros. “Mangueira mais parece um céu no chão”, sem questionamentos, Sei lá, Mangueira, não posso explicar.

Encerro com os versos de Nelson Cavaquinho, que traduziu nossa paixão pela Verde e Rosa, a Velha Manga, de maneira sublime. Declaração de amor composta por um mestre e eternizada por Beth Carvalho. Parabéns, Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira! Parabéns, Super Campeã!

Quando eu piso em folhas secas /
Caídas de uma Mangueira /
Penso na minha Escola /
E nos poetas da minha Estação Primeira...


Como ainda não consegui definir meus dez sambas mangueirenses inesquecíveis, eu escolhi 20.

2011 O filho fiel, sempre Mangueira!

2008 100 anos do frevo é de perder o sapato. Recife mandou me chamar...

2007 Minha pátria é minha língua. Mangueira, meu grande amor. Meu samba vai ao Lácio e colhe a última flor.

2003 Os dez mandamentos: o samba da paz canta a saga da liberdade.

2002 Brazil com "z" é pra cabra da peste; Brasil com "s" é a nação do Nordeste.

2001 A seiva da vida.

2000 Dom Obá II: rei dos esfarrapados, príncipe do povo.

1999 O século do samba.

1998 Chico Buarque da Mangueira.

1997 O Olimpo é Verde e Rosa!

1996 Os tambores da Mangueira na Terra da Encantaria.

1995 A esmeralda do Atlântico.

1994 Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu!

1993 Dessa fruta eu como até o caroço.

1990 E deu a louca no barroco!

1988 Cem anos de liberdade, realidade ou ilusão?

1987 O reino das palavras.

1986 Caymmi mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira têm.

1984 Yes, nós temos Braguinha!

1983 Verde que te quero Rosa... semente viva do samba.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Espectro



Por vezes, nós nos sentimos aprisionados como uma sombra.
Embora possa ser ampla, sempre estará presa a um corpo.


Livremente adaptada de observação feita pelo artista plástico Mário Sette.

Foto, autorretrato, tirada numa tarde de sol forte em Maranguape II - Paulista (PE), em 15 de abril de 2013.

domingo, 14 de abril de 2013

Dez vezes Marisa Monte

Alguns eventos têm uma importância tão grande, que fazemos questão de registrá-los de forma bem especial. O meu primeiro show de Marisa Monte não foi diferente. No dia, tive maravilhosa companhia. Antes, porém, criei todo um clima para aquele momento único, esperado por mais de uma década.

Os textos abaixo foram resgatados de meu perfil na “rede social”. Certamente, ficariam perdidos naquele excesso de informação. São pequenas análises dos dez discos lançados por Marisa desde o começo da carreira solo por volta de 1987. Dez pequenas resenhas em formato de contagem regressiva para o show Verdade, uma ilusão, ao qual pude assistir em 17 de janeiro deste ano, no Teatro Guararapes, em Olinda.

#10 Começo a contagem regressiva para o show da cantora que não só “me deu” interpretações de músicas maravilhosas, mas que também me presenteou com a trilha sonora de minha vida. Ouvi Marisa Monte pela primeira vez em 1997. Era o som vindo de uma fita k7 no Escort de meu tio. O carro não existe mais, mas as lembranças...

A música, Bem que se quis, versão de Nelson Motta para a E po’ che fa’ do italiano Pino Daniele, foi a primeira que tocou minha alma e corou meu corpo. Simplesmente linda e pode ser conferida no vídeo a seguir! O álbum de estreia, lançado em 1987, apresentava a cantora de forma direta: o Marisa Monte vendeu meio milhão de cópias e é considerado pela revista Rolling Stone Brasil um dos 100 melhores discos da música brasileira.

Além de minha canção preferida, destaco as interpretações de mais quatro: Preciso me encontrar, de Candeia; Xote das meninas, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas; Lenda das sereias, samba do Império Serrano composto por Vicente, Dionel e Veloso; e Speak low, de Ogden Nash e Kurt Weill.


#9 A regressiva continua... A nove dias do show, é momento de relembrar o Marisa Monte Mais, segundo álbum da cantora, lançado em 1991. Quem nunca namorou, pensou no amor, apaixonou-se ao som de Ainda lembro, de Marisa e Nando Reis; e Eu sei (Na mira), também de Marisa?

Nesse trabalho mais autoral, qual professor de português nunca pensou em usar as músicas Beija eu, parceria entre MM, Arnaldo Antunes e Arto Lindsay; ou Diariamente, de Nando Reis, para explicar colocação pronominal e figuras de linguagem? Eu já usei!

No clipe, a gravação da caetana De noite na cama... onde “EU FICO PENSANDO SE VOCÊ ME AMA”. Na verdade, penso em qualquer lugar.


#8 Como o samba faz bem a Marisa. E como Marisa faz bem ao samba... Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão – o terceiro disco de Marisa Monte, lançado em 1994, foi batizado com os versos da música Seo Zé, adiantando o que viria a ser a futura parceria TRIBALÍSTICA entre a cantora, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.

É um álbum que mistura regiões, sentimentos, cores, idades... é cidadão do Mundo. Uno e múltiplo, preferi não destacar uma canção em meio a tantas maravilhas da nossa música. Poemas à vida que recebem as visitas do Rio Azul da Portela, de Paulinho da Viola, Nando Reis, Lou Reed, Arto Lindsay, Jorge Benjor, Bubú da Portela, Jamelão, Nando Reis, Arnaldo e Carlinhos.

Oito dias para um show esperado há 12 anos. #NÃOSUPORTOMAISTUAAUSÊNCIA e fico com Esta melodia, de Bubú da Portela e Jamelão.


#7 Causou barulho o álbum lançado por Marisa Monte em 1996. Com ilustrações do artista pornô-naif Carlos Zéfiro, Barulhinho Bom: uma viagem musical mistura músicas inéditas e regravações de sucessos da cantora. Sobre o trabalho plástico, Nelson Motta chega a considerá-lo uma das dez principais capas de discos brasileiros na história, proibida, inclusive, de ser exposta nos Estados Unidos.

Por ser um disco duplo, ele entra duas vezes nesta contagem regressiva. O Barulhinho “Ao Vivo” foi gravado no Teatro Carlos Gomes (RJ) e no Teatro Guararapes (PE), local do show da artista daqui a sete dias. Na década de 1990, a plateia do Recife recebia estreias nacionais de shows de grandes artistas. Se o pernambucano, chamado de público termômetro pela Revista Veja – 28 Graus, recebesse bem o espetáculo, o sucesso era garantido em todo o Brasil. No caso de Marisa, até em outros países.

Nessa viagem musical, impossível não destacar a regravação de Segue o seco, composta por Carlinhos Brown e lançada no trabalho anterior da cantora. E o que falar sobre o clipe dessa música? Inicialmente, o vídeo seria rodado no Sertão nordestino. Na época da gravação, porém, a prece sertaneja foi ouvida: a chuva mudou a paisagem árida da caatinga, impossibilitando a filmagem a céu aberto.

O resultado do estúdio foi premiado com cinco troféus no Video Music Brasil VMB 1995: clipe do ano, MPB, direção, edição e fotografia. Abaixo, o registro da apresentação de Marisa durante a premiação na MTV.

#CHUVAVEMMEDIZERSEPOSSOIRLÁEMCIMAPRADERRAMARVOCÊ


#6 Depois de escrever sobre a gravação ao vivo de Barulhinho Bom: uma viagem musical, momento de relembrar o disco 2 produzido em “Estúdio” para esse álbum duplo. Serei breve!

A seis dias do show Verdade, uma ilusão, ouvir os sete barulhinhos, as sete músicas do disco, fazem-me lembrar da rapidez de nossas relações. Estou a poucos dias de um show esperado há anos. O tempo é relativo, senhores!

Nesta vida, tudo eletrônico, tudo rápido, tudo experimental, MAS AINDA ESTAMOS VIVOS... Como nos lembra Cérebro eletrônico, composta por Gilberto Gil, a música desta sexta virtual! #PORQUESOUVIVO(EMUITOVIVO)


#5 #MEMÓRIAS: E no meio de tanta gente eu encontrei você... #CRÔNICAS: Apagaram tudo. Pintaram tudo de cinza. A palavra no muro ficou coberta de tinta... #DECLARAÇÕES DE AMOR: Deixa eu dizer que te amo. Deixa eu pensar em você...

Com Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000) Marisa Monte se tornou ainda mais popular. No Brasil, foram duas milhões de cópias vendidas, impulsionadas pelo hit Amor, I love you, de Carlinhos Brown e Marisa, com o clipe da música lançado no Fantástico (Rede Globo).

Falar de amor é o grande objetivo do álbum. E isso foi feito com louvor, garantindo o reconhecimento do disco. Clipes, site, música, DVD... tudo nesse trabalho foi premiado: Video Music Brasil, Grammy Latino e Prêmio Multishow da Música Brasileira. Ou seja, sucesso de público e de crítica.

Tema de amor, também composta por Marisa e Carlinhos, é a música que destaco desse disco. Amar é maravilhoso, Amigos! Amem! #EUCONHECÇOTODOJEITO


#4 Dez anos de parceria... companheirismo... intimidade... O trabalho no álbum Tribalista é bem feito, muito bem feito, mas não me empolga tanto como os outros discos de Marisa Monte. Lançado em 2003, traduz a relação de um #TRIO muito importante para a música brasileira: MM, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.

Destaco Carnavália. No clima de Carnaval, no clima do samba... Letra cheia de malícia, vontade, tesão, simplicidade, entrega, homenagem e amor! #VEMMENAMORAR


#3 Todos nós escondemos tesouros desconhecidos, reticências habitam nosso ser. Vejo o álbum Infinito Particular (2006) dessa forma. De título simples e poético, as músicas do disco me acompanham nos momentos em que preciso me encontrar.

Entre riquezas inéditas ou regravadas, encontra-se uma homenagem a Pernambuco, composta por Marisa Monte, em parceria com Rodrigo Campelo, enquanto ela viajava por estradas entre canaviais de minha terra. De além-mar, ao mar de cana, com vocês: Pernambucobucolismo

#EUVOUFAZERUMAREVOLUÇÃO Que ela comece em mim!


#2 Universo ao meu redor, disco lançado em 2006 ao mesmo tempo do Infinito particular, reflete a influência do samba na vida de Marisa Monte. Não é apenas um álbum de, mas de e sobre #SAMBA, sobre as histórias por trás desse gênero musical.

Abençoado pelos portelenses Monarca e Paulinho da Viola e por uma das maiores representantes da “família imperial”, Dona Ivone Lara, Universo canta o amor, a música, o ser humano, a paixão, o desejo, a tristeza, a natureza... Se “tarde, já de manhã cedinho” você ouvisse boas músicas...

Se “novo dia, sigo pensando em você” e você também pensasse...
Se “pela primeira vez, eu chorei” por prazer, não por dor...
Se “sim, são três letrinhas” eu também posso dizer não...
Se “eu só não te convido pra dançar” porque sou tímido...
Se “a minha vida era só melancolia” e era...
Se “coração não tem barreira não” e eu (não) procuro outras barreiras...
Se “where are you? I am here” and I speak Portuguese...
Se “eu movo dezenas de músculos para sorrir” e ainda consigo rir...
Se “foram tantos sofrimentos e decepções” necessários...
Se “quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho” estava certo...
Se “entre nós deve haver sinceridade” cumplicidade, verdade, lealdade, sinônimos...
Se “só porque disse que não me quer, não quer dizer que não vá querer” ou não...
Se “nasceu em meu jardim uma linda rosa perfumada” e eu poderei dar a alguém...

Se você leu tudo isso, o samba faz parte de nossas vidas. É o nosso #UNIVERSO, e ficamos todos #SATISFEITOS, como na música de Marisa, Carlinhos e Arnaldo.


#1 Eis que completo a contagem regressiva. Nos últimos dez dias, contei, ansiosamente, a chegada de um show que espero há 12 anos. Já disse que Marisa Monte é trilha sonora de minha vida, e sou feliz por isso.

O que você quer saber de verdade?, música de Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, dá nome ao álbum lançado em 2011. Ele é para ser ouvido do começo ao fim, música por música, como se fosse o contar de uma história de amor. São canções que se completam, iguais a encontros, desencontros e reencontros de pessoas que se amam.

Já a turnê do disco OQVQSDV foi batizada com o nome de outra música: Verdade, uma ilusão, também composta pelo trio. "Verdade, seu nome é mentira." #VERDADE? #MENTIRA? A verdade está dentro de cada um.


Dia do show - Marisa Monte canta, fala, encanta... como se fosse dar um último suspiro. É de uma entrega simples e verdadeira. É um sopro de vida!

Foto: Francisco Danilo Shimada

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Quem sou eu e por que escolhi o jornalismo como profissão*

Filho da paraibana Lúcia Jovina Soares dos Santos e do paulista Ivo Teruo Shimada, nasci pernambucano aos vinte primeiros minutos de um sábado, em 30 de agosto de 1986, e recebi o nome de Francisco Danilo Soares dos Santos Shimada. Ainda vivo no bairro de Maranguape II, cidade do Paulista, aquela que já foi a terra do eucalipto, do algodão e das chaminés. De região repleta de histórias, passei a observar o mundo a partir de uma visão periférica, a contar a história dos outros e a minha própria.

“Em 25 de julho de 1987, segundo minha mãe, eu dava mais um passo rumo a uma das necessidades mais encantadoras dos seres humanos: o comunicar através da fala. Disse algo que se assemelhou a ‘papai’. Por sorte, e num maravilhoso capricho do destino, 25 anos depois, num mesmo 25 de julho, eu ultrapassei mais uma fase desse comunicar. Com orgulho, recebi o título de bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).”

O pequeno recorte acima faz parte do agradecimento, que postei em meu perfil numa rede social, logo após ser diplomado jornalista. Com a leitura dos comentários postados em minha página na internet, percebi o quanto sempre estive ligado à vontade de comunicar, seja por questões de intuição, vontade ou destino. Mas até chegar à colação de grau, diversas experiências enriqueceram-me, fizeram-me acreditar na máxima que “informação só é validada com formação” e permitiram-me saber quem sou e qual minha função.

Quando mais novo, sempre pensei em ser jornalista, médico e jogador de vôlei. Conciliar tudo isso seria o grande desafio. Até consegui ser um bom ponteiro, mas a altura não me permitiu continuar em quadra. No mesmo caminho das escolhas, desisti duas vezes de medicina. Na primeira, troquei bisturis e tesouras por provas e cadernetas e comecei a estudar letras.

Ser professor foi uma das pouquíssimas decisões que não tomei diretamente. Na verdade, fui escolhido para ser o “tio” de muitas “criaturas” pelas vivências que tive durante meu ensino médio, entre 2001 e 2003. Nesse período, auxiliando minha mãe, pude alfabetizar minha avó e algumas amigas de minha dela, a avó, que faziam parte do Grupo da Boa Idade de Maranguape II. Também fiquei um tempo como professor voluntário em um abrigo para jovens no mesmo bairro. Passados alguns anos em sala de aula, só posso afirmar o quanto me sinto feliz e realizado nesse caminho, que ainda preciso concluir.

A segunda vez que desisti de medicina foi para, finalmente, optar por jornalismo. A escolha se deu em 15 minutos. Estava com minha vaga garantida no curso da Faculdade Pernambucana de Saúde, quando mudei minha decisão e optei pela única vaga de jornalismo oferecida pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) na Católica. Os consultórios médicos perderam o cardiologista, mas as redações, os estúdios e as salas de aula ganharam um profissional apaixonado pelo que faz. Um profissional que tem o apoio de família, amigos, alunos, companheiros de trabalho e vizinhos.

Ainda creio que parte de meu desejo jornalístico também se deva ao meu ano de nascimento: 1986. Ano de Copa do Mundo de Futebol vencida pela Argentina; aparição do cometa Halley; criação do Plano Cruzado; desastre na Usina Nuclear de Chernobyl; explosão do ônibus espacial Challenger... Intrigantes acontecimentos que mereceram ser noticiados.

A necessidade de trocar informações e descobrir coisas, comuns aos virginianos, fez-me enveredar por caminhos jornalísticos diversos: membro do Conselho Editorial da revista O Caldo, em 2006, pude escrever sobre formação política e social e educação; no Tribunal de Justiça de Pernambuco, de 2010 a 2012, tive a liberdade de trabalhar com redes sociais, editar livros e produzir revistas, mas, além de tudo isso, pude mudar a preconceituosa visão que tinha da Justiça no Brasil; no Comitê Olímpico Brasileiro, desde 2008, pude viajar para quatro estados brasileiros e cobrir a prática esportiva entre estudantes.

O ser jornalista permitiu-me ser múltiplo.

*Texto com o qual concorri a uma das vagas do 30º Curso Abril de Jornalismo. Cheguei até a última fase do processo seletivo, quando fui entrevistado pelo jornalista Edward Pimenta, em novembro de 2012, no Recife (PE), mas não fui aprovado.

Francisco Danilo Shimada

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Resignação

Um ser humano descartável caminhava despercebido pela rua. O rosto ignorado escondia prazeres e dores por trás de uma barba mal cuidada, acariciada por velhas mãos. Mal sabem que aquelas mãos moldaram mentes, criaram profissionais exemplares: professores, advogados, jornalistas, policiais, cineastas... Todos eles seguiram os ensinamentos desse homem ignorado. Um homem que precisou ignorar tudo isso. Livrou-se dos pesos, para viver sem a culpa de ter criado seres humanos perfeitos e descartáveis.

Francisco Danilo Shimada