segunda-feira, 29 de abril de 2013

Dia de visita

Foi como um soco no estômago, num dia nublado. Senti-me impotente diante daquelas mulheres, inúmeras, dentro do ônibus, carregando bolsas e crianças. Voltavam do presídio e conversavam sobre os "seus" homens, aqueles que elas haviam deixado atrás das grades. Deixaram por essa ser a única alternativa, a rotina definida por um tempo judicialmente metafórico em resposta a um ato (in)justificável.

A visita do domingo foi rápida, sem direito a pernoite, e possivelmente, repleta das mesmas cobranças e promessas. A cobrança dos homens, "que não nos abandonem"; a promessa das mulheres, "jamais". Quantos filhos, netos, maridos e pais fizerem tal pedido? E quantas mães, avós, mulheres e filhas reafirmaram o compromisso?

Entre as conversas, a mais triste partiu de uma loira, grávida, evangélica... Linda e mal tratada pelo tempo, pela rotina. "Esse tempo de chuva é tão bom para dormir agarrado com alguém", disse. "Durma abraçada a Daniel", replicou uma morena falante. "Terei de fazer isso. Pena que não ficamos lá hoje. Está tão frio", completou a loira. Só imaginei tratar-se de um filho, do filho tido com o homem ausente há, sabe-se lá, quanto tempo. Sabe-se lá o porquê dessa ausência. Imagina-se.

Eram tantas com um mesmo rosto sofrido, alegre e satisfeito. Resignados e fortes, num mesmo instante. Rostos que se misturaram à multidão no terminal onde descemos poucos minutos depois. Minutos que duram até agora, horas passadas. De lá, cada uma tomou o rumo de casa. Creio nisso. Fui para o meu show num domingo nublado e chuvoso. Fui só.

Francisco Danilo Shimada

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